Membro da Guarda Nacional foi baleado em Caracas; governo acusa oposição.
CARACAS — Um membro da Guarda Nacional foi morto na noite desta quarta-feira em Caracas, elevando para três o número de vítimas durante os protestos realizados na Venezuela. Mais cedo, dois jovens já haviam sido mortos.
Segundo a Defensoria do Povo, o militar foi baleado por um francoatirador. O deputado chavista Diosdado Cabello, homem forte do regime, culpou o governador de Miranda, Henrique Capriles, e a oposição pela morte.
— Acabam de assassinar um guarda nacional em San Antonio de los Altos. Capriles e seu combo de assassinos estavam buscando mortos, desesperados. Mas aqui haverá justiça, tenham certeza de que vai haver justiça — afirmou Cabello, em seu programa televisivo semanal.
Já haviam sido confirmadas as mortes de Carlos José Moreno Baron, de 17 anos, atingido por uma bala na cabeça, na região de San Bernardino, em Caracas; e Paola Ramírez, de 23 anos, em San Cristóbal, no estado de Táchira. Ambos, segundo a mídia local, foram atingidos por disparos feitos pelos coletivos chavistas, embora não estivessem participando das marchas.
A oposição marcou um novo protesto para esta quinta-feira.
— Amanhã, na mesma hora, convocamos todo o povo venezuelano a se mobilizar. Hoje fomos milhões e amanhã temos que reunir mais pessoas — declarou Capriles, em entrevista coletiva.
‘MÃE DE TODAS AS MARCHAS’
Chamada de “mãe de todas as marchas”, a manifestação ocorreu um dia depois de o presidente, Nicolás Maduro, ter denunciado em cadeia nacional uma tentativa de golpe de Estado “da direita venezuelana, liderada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.
Sem fazer qualquer menção às mortes ocorridas durante as marchas, Maduro parabenizou a Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) pelo “sucesso na largada do Plano Zamora”, anunciado na véspera como a grande aposta do Palácio de Miraflores “para derrotar o golpe de Estado”.
— O Plano Zamora está dando resultados — comemorou, ao fim de uma manifestação convocada para se contrapor, como de costume, aos protestos opositores.
A repressão também atingiu a imprensa: o sinal da TV do jornal colombiano “El Tiempo” foi retirado do ar pelo governo quando transmitia ao vivo os protestos. Do Brasil, o chanceler Aloysio Nunes, acusou Maduro de ser o responsável pela morte do manifestante em Caracas. “Aconteceu o que eu mais temia na Venezuela: a repressão do governo matou um manifestante”, escreveu no Twitter.
— A repressão está se tornando cada vez mais violenta, existe uma vontade evidente de impedir as ações da oposição — disse Carlos Correa, da ONG Espaço Público, que classifica a marcha de quarta-feira como a maior dos últimos anos. — As pessoas estão decididas a continuar nas ruas. As declarações de Maduro e do ministro da Defesa (Vladimir Padrino López) mostram um governo em guerra.
Na marcha, como em todas realizadas nos últimos dias — até durante a Semana Santa — dirigentes de peso da Mesa de Unidade Democrática (MUD) como Capriles, estiveram presentes e foram atingidos pela repressão. O uso de gás lacrimogêneo — inclusive de helicópteros — é cada vez mais intenso e obrigou muitas pessoas a serem atendidas em hospitais.
MADURO ACUSA PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA
Um dos detidos foi o secretário geral do partido Primeiro Justiça (PJ, de Capriles) em Táchira, Gustavo Gandica, acusado pelo governo de estar envolvido no suposto plano para derrubar Maduro.
— A violência é o último recurso do governo e, por isso, estamos vendo uma violência descontrolada. Caracas virou uma espécie de Berlim, só que aqui o muro não é de cimento, e sim formado por militares que não permitem que manifestantes da oposição cheguem ao centro da cidade — assegurou Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela.
Para ele, o governo já se esqueceu da política, não se importa com a repercussão internacional e ignora os alertas:
— Mais cedo ou mais tarde, um setor militar não acompanhará mais esta aventura repressiva, mas pode levar meses.
Fonte: G1